Traumatismo e violência: a criança em meio à guerra urbana brasileira
O cotidiano de muitas crianças no Brasil tem sido atravessado por situações violentas extremas, evidenciando um estado de abandono social. Sendo assim, o presente artigo visa compreender, a partir da história de Sandro Barbosa do Nascimento e da psicanálise, a natureza do traumatismo e sua relação ao trauma na experiência da criança que vivencia cenas violentas em seu cotidiano. Compreendemos que o traumatismo se constitui na dimensão singular de cada criança, a partir do modo como lidam com o encontro com o trauma que as cenas violentas comportam, bem como com o gozo que irrompe da proximidade do Outro totalitário. Estes modos podem se constituir do recurso simbólico de cada sujeito, mas também da experiência com o não-sentido.
Excessos, violência e expressões de ódio em tempos da ausência do outro
As atuais expressões de ódio que circulam pelo mundo, em termos de racismo, preconceitos e injúrias, caracterizam a violência que surge na cena social como resultado do declínio do simbólico e a emergência do gozo, que evocam um Outro impreciso, cujo discurso totalitário visa à negação da alteridade, da diferença dos modos de gozar, revelando o mal-estar e a agressividade constituintes do humano. Este artigo pretende compreender, com base no ensino da psicanálise de orientação lacaniana, o que fundamenta esse fenômeno atual bem como os efeitos da violência presente nas expressões de ódio sobre o laço social. Assim, compreendemos que a violência é uma resposta ao Outro contemporâneo, constituído como sem falta e, portanto, ocasionando a aproximação do sujeito ao campo de um gozo ilimitado, sem lei, cujo efeito lhe parece dissociar de qualquer responsabilidade no laço social.