A pesquisa-intervenção psicanalítica com adolescentes: o que elas nos dizem sobre gravidez e maternidade a partir da conversação

Buscamos interrogar, pela discussão de alguns casos, o sentido, na atualidade, da gravidez na adolescência. Se as adolescentes, hoje, podem viver uma certa liberdade sexual sem engravidar, por que ainda a gravidez, nesse período da vida, continua acontecendo e é considerada um problema pela sociedade e pelas políticas públicas em todo o mundo? E, principalmente, por que as adolescentes engravidam? Essa questão é abordada pela perspectiva da psicanálise. A prática da conversação, metodologia adotada por nós, mantém o objetivo psicanalítico de escutar o inconsciente e unir o tratamento à pesquisa e, desse modo, permite-nos examinar o sentido e a função da gravidez com base na singularidade e na palavra de cada um, e interrogar nossa hipótese: se a gravidez na adolescência poderia ser, em alguns casos, uma resposta ao ser mulher e um endereçamento ao Outro.

A disjunção mãe/mulher a partir de uma prática de conversação

Em Freud, a mulher é irremediavelmente ligada a uma reivindicação fálica jamais satisfeita e a assunção da feminilidade coincide com a maternidade. Que o feminino não se deixe recobrir inteiramente pela mãe é, por outro lado, destacado por Lacan. A prática da conversação com adolescentes mães e gestantes realizada no âmbito de uma pesquisa revela que, apesar das diversas conquistas das mulheres nas últimas décadas, a maternidade fornece ainda hoje significado e imagem com os quais se revestem o feminino pela via do ter fálico. Contudo, a tentativa de encerrar o feminino na mãe não cessa de fracassar.