Maternidade e foraclusão: A equação filho-kakon

A maternidade está articulada à relação da mulher com a falta; contudo, a falta nem sempre está articulada ao falo, à castração. Que lugar a criança ocupa, qual o lugar para a maternidade, quando não há recurso à significação fálica? Um caso clínico nos permite interrogar qual o lugar do filho quando a significação fálica não é operante e a gravidez revela a foraclusão. Uma passagem ao ato durante a gestação evidencia como o bebê pode se converter em “kakon”, objeto mau a ser eliminado. A angústia experimentada, neste caso, não é a angústia-sinal do neurótico, que enquadra a fantasia construída em resposta ao desejo do Outro. É uma angústia enorme, a céu aberto. Para o psicótico, não é possível responder ao desejo do Outro pela fantasia. Se, na neurose, o objeto a, extraído da castração, pode funcionar como uma resposta ao Outro, na psicose o sujeito se vê identificado a esse objeto. Ele encarna o objeto e a angústia fica sem contenção alguma. O bebê é o próprio objeto estranho, inimigo interior a ser eliminado, o verdadeiro “kakon”.

Veja também...

A recusa do corpo sexuado na anorexia

A voracidade do supereu e a anorexia na adolescência

O objeto na anorexia – da falta do objeto ao objeto nada

Elementos para uma releitura clínica da noção de narcisismo a partir das relações entre anorexia e melancolia

Ato e deriva pulsional na clínica da anorexia-bulimia

Anorexia: uma conjugação do amor no feminino?